Obra tem ser a Norte do Tejo – Cravinho continua a defender aeroporto na Ota

O ex-ministro do Equipamento João Cravinho disse hoje à agência Lusa continuar favorável a um aeroporto na Ota, admitiu que se reexamine a questão mas defendeu que a obra tem de ser ao Norte do Tejo

João Cravinho era o ministro com a tutela das obras públicas, transportes e comunicações em 1999, quando a Ota foi escolhida pelo Governo socialista de António Guterres para local do novo aeroporto internacional de Lisboa.

«Continuo pela Ota porque não surgiu nenhum estudo conclusivo, fundamentado e profundo que demonstrasse que a Ota não é a melhor solução», declarou à Lusa o administrador do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD).

Contudo, Cravinho acrescentou que «se houver factos novos, há que reexaminar a questão à luz desses factos», considerando que deve-se «aguardar pelo relatório mais profundo sobre a capacidade da Ota» da empresa Navegação Aérea de Portugal (NAV).

O estudo da NAV, divulgado este mês pelo semanário Sol, indica que o futuro aeroporto da Ota estará saturado em 13 anos, muito abaixo dos 50 anos previstos pelo Governo, e que o espaço aéreo será condicionado pela proximidade da base militar de Monte Real.

«Com base nos elementos disponíveis até meados do ano passado não vejo nenhuma razão para se alterar a decisão. Se me disserem que há elementos completamente novos, há que ponderar a situação», reforçou João Cravinho.

No entanto, o ex-deputado do PS, que renunciou ao mandato em Janeiro para administrar o BERD em Londres, defendeu que o novo aeroporto «tem de ser acima do Tejo», excluindo dessa forma as localizações sugeridas recentemente próximas de Rio Frio.

Cravinho resumiu que «há acordo sobre a necessidade de um novo aeroporto» mas há duas alternativas: um aeroporto regional ou um com características de hub nacional, ou seja, um aeroporto central vocacionado para ligações a voos internacionais ou de longa distância.

«A península de Setúbal afasta-se da melhor localização nacional, é como se estivéssemos a escolher apenas um aeroporto regional», alegou, em seguida, acentuando que nunca teve «a menor dúvida» de que o novo aeroporto tem de ser um hub.

Segundo o ex-ministro do Equipamento, em 1999 «escolheu-se a Ota porque de todas as localidades ao Norte de Lisboa era a que tinha melhores condições» e esta «está muito mais bem situada do que a península de Setúbal» para um aeroporto central.

Quanto aos custos, Cravinho admitiu que será «porventura mais cara» a construção nos terrenos da Ota, mas frisou que não se pode esquecer o objectivo da obra, referindo que «era muito mais barato um aeroporto em Mértola» ou «em Beja» e concluindo que «o que é barato sai caro muitas vezes».

Além disso, de acordo com o socialista, os terrenos sugeridos junto a Rio Frio «são muito condicionados porque a península de Setúbal é extremamente frágil do ponto de vista ambiental», enquanto na Ota há fragilidades ambientais também, mas muito

Questionado sobre a futura ligação à alta velocidade, João Cravinho respondeu: «Nunca me disseram que a Ota tem dificuldades em ser servida por TGV. É perfeitamente acessível, como seria a península de Setúbal».

Ainda sobre o estudo da NAV, Cravinho considerou que “a sua metodologia foi contestada, há que aprofundar” e caso “se confirmar que há grandes limitações é preciso ponderar, a todo e qualquer momento se houver uma prova há que raciocinar”.

         “Agora, não se anda a mudar de localização só porque há uns senhores que não gostam”, sublinhou, afirmando que “o Governo está a avançar com o processo com todas as cautelas e muito bem”.

         Em defesa da Ota, o ex-deputado do PS disse ainda que um novo aeroporto nesse local “não vai prejudicar Pedras Rubras”, no Porto, e “vai beneficiar sobretudo a população do Norte”, que “vai ter mais escolhas” de voos.

         O ex-ministro afirmou, por outro lado, que “a ideia de que se só e estudaram duas opções – Ota e Rio Frio – é de pessoas que não conhecem o dossier”, e “é como dizer que só houve duas equipas na Taça de Portugal porque só se olha para os finalistas”.

         “Quando se tomou a decisão em 1999 pediu-se aos aeroportos de Paris que considerassem todas as hipóteses estudadas e ainda outras, como Santo Estêvão, que há tinha uma utilização pelo grupo Espírito Santo que a inibia, e Salvaterra de Magos”, disse.

[(c)Lusa/Sol – 27 MAR 07]